Hoje temos o prazer de falar com Sonia Dias, Especialista Global de Resíduos e Catadores da WIEGO. Nas últimas décadas, ela tem sido consultora do Banco Mundial, da GIZ e de outras organizações, e por 15 anos ela tem sido pesquisadora e especialista global para a rede WIEGO

#SheLeadsTheChange

  • Você pode nos dizer por que decidiu focar sua carreira no setor de gestão e recuperação de resíduos? 

Em meados dos anos de 1980,  eu trabalhava  num projeto de re-urbanização de favelas em Belo Horizonte onde, numa determinada época, um mapeamento participativo realizado com a comunidade, identificou a demanda dos moradores de ter acesso à coleta regular de lixo já que naquela época os mesmos só tinham acesso `a uma caçamba na entrada do assentamento informal. Naquela época, eu tinha acabado de me formar como socióloga e era parte de uma equipe multi-disciplinar com engenheiros, arquitetos e cientistas sociais e assim nossa equipe planejou um sistema de coleta de lixo com um mini-trator que conseguia percorrer as vielas e becos da favela. Assim, eu descobri pela primeira vez as inúmeras possibilidades que a gestão de residuos tem em se associar com distintos elementos da Cidadania substantiva, ou seja dos direitos sociais que os cidadãos deveriam ter acesso. Daí em diante, fiz especialização em residuos sólidos no Japão e trabalhei em varias organizações tais como a Fundação Centro Tecnológico do governo de Minas Gerais em projetos de re-estruturação da limpeza urbana com minha querida mentora e colega, Heliana Kátia Tavares Campos e também na Superintendencia de Limpeza Urbana de Belo Horizonte por quase 10 anos onde nossa maravilhosa equipe implementou um sistema de gestão integrada de residuos onde entre outras coisas incluía o Projeto de Reciclagem Inclusiva que reconhecia e valorizava o trabalho das cooperativas de catadores como parte fundamental do sistema de resíduos. Foi depois de muitos anos de engajamento prático que resolvi fazer o mestrado (Geografia Humana) e o doutorado (em Ciencias Políticas) refletindo sobre os dilemas da associação do lixo à cidadania.  

Nas últimas décadas, eu fiz consultorias  para o Banco Mundial, a GIZ, e outras organizações e há 15 anos sou pesquisadora e especialista global da rede WIEGO. 

 

  • Que funções você desempenha como Global Waste Specialist? 

Minhas funções na WIEGO são múltiplas e envolvem um trabalho em nível global e em nível local (no sentido de nacional, subnacional e local) no Brasil. 

No plano global, como especialista de setor assessoro diversas equipes locais da WIEGO em diversos países do mundo bem como organizações de catadores, além de liderar a agenda urbana de resíduos sólidos atuando com organizações como a Organização Internacional do Trabalho (OIT), a ONU- Habitat que atua nas questões urbanas, ONU Meio Ambiente, a ONU Mulher e diversas outras agencias do sistema ONU. Tenho atuado particularmente junto com a unidade de cooperativas da OIT e com o Centro Internacional de Treinamento da OIT (ITCILO, em inglês) ministrando cursos sobre trabalho verde, gênero entre outros. Ainda nesse nível global sou do conselho consultivo de diversas iniciativas e projetos tais como, o WOW Mulheres nos Resíduos da Associação Internacional de Resíduos Sólidos (WOW – Women of Waste da ISWA – International Solid Waste Association); Grupo de trabalho Open Burning da Royal Society of Engineers; Circulate Initiative entre outros.  

No Brasil, o trabalho envolve múltiplas frentes tais como: 1. o que chamamos de “Advocacy” procurando incidir na produção de políticas públicas inclusiva junto aos governos nacional, estaduais e municipais, bem como nas políticas de organizações de pesquisa, associações profissionais e outras redes; 2. Produção de pesquisa e estatísticas sobre catadores, tais como o Projeto Cuidar de mapeamento de riscos de saúde, o Projeto Repensando as Relações de Gênero, Estudo de Monitoramento da Economia Informal, Mudanças Climáticas e Catadore-as etc; 3. Apoio à voz e visibilidade das organizações de catadores, com facilitação, capacitação técnica em distintas áreas que aumentam as capacidades e habilidades das lideranças do movimento de catadores; 4. Assessoria a grupos de trabalho temáticos e processos de intervenção liderados por governos locais e/ou pela sociedade civil na área da reciclagem inclusiva e proteção social; 5. Comitê técnico e consultivo tais como o da ONG Pimp my Carroça e do Compromisso por Brasília; 6. Militância e assessoria técnica em diversas redes multi-atores tais como os Fóruns Lixo e Cidadania, Observatório de Reciclagem Inclusiva (ORIS), a Frente Brasileira de Alternativas à Incineração 

 

  • O que é WIEGO? Qual é sua principal missão?  

 Mulheres no Trabalho Informal : Globalizando e Organizando (WIEGO) é uma rede global de pesquisa e políticas que procura melhorar as condições de vida e trabalho dos trabalhadores pobres, em especial das mulheres da economia informal. 

 O trabalho da WIEGO produz: 1. Produz evidências do tamanho, a composição, as características e a contribuição da economia informal através de estatísticas e pesquisa; 2. Colabora no fortalecimento das organizações de base dos trabalhadores informais; 3. Promove diálogos sobre políticas e processos inclusivos dos representantes das organizações de base dos trabalhadores informais. 

 

 

 

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